Autor: Adilio Marcuzzo Junior
Quem já não ouviu falar sobre o capítulo 20 dos manuais de manutenção e de diagramas elétricos e dos procedimentos de práticas padrões dos manuais de reparos estruturais das aeronaves ? Mas quantos de vocês realmente fazem consulta a estes capítulos e utilizam as práticas de manutenção aceitas pela indústria aeronáutica no que se refere à manutenção e reparos de estruturas e sistemas das aeronaves ?
Geralmente estas instruções são compostas dos seguintes tópicos :
(1) Aeronaves e Sistemas : práticas de manutenção para tubulações, mangueiras, fixações, anéis de vedação, utilização de frenos, cabos de comando, selos, polias, dados de torque para porcas, parafusos e fixações.
(2) Elétrica/Eletrônica : práticas de manutenção para inspeções em sistemas elétricos e instruções para instalações e reparos de fiação elétrica, interconexão de componentes, soldagem em fiações (consultar, também, o manual de diagramas elétricos).
(3) Solventes, Selantes e Adesivos : práticas de manutenção que descrevem instruções de uso de selantes e material de limpeza; vedação a alta temperatura e pressão, vedação contra efeitos do ambiente externo e vedação contra vazamentos; aplicação de adesivos.
(4) Dados para Conversão : contém instruções de conversão de unidades de medidas mais usadas no manual de manutenção da aeronave.
(5) Técnicas usadas em tratamento de proteção de metais, testes de dureza de material, identificação e substituição de rebites, reparo de superfícies, balanceamento de superfícies de comando entre outras instruções.
O objetivo deste artigo não é explicar detalhadamente todos estes tópicos do capítulo 20 (Práticas Padrões), mas lembrar que a palavra MANUTENÇÃO significa manter o estado original do produto aeronáutico e que, para isto, devemos utilizar práticas aceitáveis que estão descritas neste capítulo e nos demais procedimentos citados nas publicações técnicas dos fabricantes.
A correta conservação de uma aeronave não depende somente da realização de inspeções ou qualquer outro item de manutenção preventiva, mas da utilização constante destas práticas. Lembrem-se de que uma aeronave bem conservada e mantida, conforme as técnicas aceitáveis, terá uma taxa de depreciação menor durante a revenda e menor número de discrepâncias levantadas durante uma inspeção de pré-compra efetuada em uma oficina homologada.
Para vocês terem uma idéia do que representa o desconhecimento destas práticas aceitáveis, durante algumas inspeções realizadas já tive a oportunidade de observar aeronaves que apresentavam corrosão em áreas recém pintadas devido à aplicação de técnicas inadequadas de prevenção de corrosão.
A estrutura de uma aeronave é composta de diferentes ligas metálicas ou por materiais compostos e para cada material há um procedimento específico de limpeza, aplicação de produtos para tratamento anticorrosivo e pintura.
Outro exemplo da falta de uso de práticas padrões é considerar que nenhum torque deve ser aplicado em um parafuso ou porca quando o fabricante não informa o valor do torque apropriado, dentro de um capítulo específico do manual de manutenção. Na realidade, somente se o fabricante AFIRMAR que não há um torque específico é que não utilizamos as tabelas do capítulo 20 referente aos valores de torque de porcas, parafusos e conexões. Portanto, consultem sempre o capítulo 20 quando não houver descrição de valores de torque para um determinado parafuso, porca ou outro elemento de fixação. Vide exemplo de tabela de valores de torque abaixo :
Tabela de Torque Padrão
Outro detalhe importante : a medida do diâmetro de um parafuso ou porca que é a referência na tabela, em conjunto com o número de fios de rosca por polegada, se faz no corpo deste e não na cabeça sextavada !!!!!!!!!!!!!! Veja o exemplo :
Com relação aos reparos estruturais devemos nos lembrar que os procedimentos dos manuais de reparo estrutural nos auxiliam durante a correção de pequenos ou grandes reparos.
Desde a seleção de um rebite, o dimensionamento de chapas e a distância entre os fixadores, as distâncias mínimas dos fixadores das bordas das chapas (vejam tabela e desenho abaixo), a remoção de mossas de hélices entre outros procedimentos estão listados no manual de reparo estrutural do fabricante ou nas Advisory Circulars emitidas pela Federal Aviation Administration.
Exemplo de tabela de Referência de Diâmetro
de Furos de Rebites e Distância Mínima de Bordas
Exemplo de Espaçamento Entre Rebites
Vocês podem observar que muitas fichas de inspeção pedem que sejam efetuados inspeções e reparos através dos procedimentos de duas excelentes fontes de consulta sobre práticas padrões que são as Advisory Circulars AC 43.13-1B (Acceptable Methods, Techniques and Practices -Aircraft Inspection and Repair) e AC 43.13-2A (Acceptable Methods, Techniques and Practices -Aircraft Alterations). Estas publicações formam grande parte da base de formação de um profissional de manutenção aeronáutica.
Todo inspetor deve conhecer estas AC´s e incentivar que suas equipes estudem estas publicações.