Autor : Edison Giovani de Faria Loredo
Neste artigo vamos disponibilizar informações sobre o uso de selantes em aeronaves. Serão vistos termos técnicos dos processos de selagem, tempo de cura, aplicação e, de acordo com cada tipo de selante, onde o mesmo deve ser aplicado.
Definições dos termos de selagem
As definições dadas a seguir facilitarão o entendimento dos conceitos básicos utilizados no emprego de selantes em aeronaves :
(a) Selagem absoluta : quando qualquer furo, rebite ou junção está selada para prevenir quanto a perdas de fluidos ou de pressão.
(b) Acelerador : agente que trabalha como catalisador (ativador) durante a secagem do selante.
(c) Tempo de aplicação : tempo que o selante dispõe para a execução do trabalho da selagem possibilitando o uso de espátulas, pistolas aplicadoras, trinchas, etc. Após este tempo, que é específico para cada tipo de selante, o mesmo não deve ser mais aplicado.
(d) Tempo de toque : esta fase da selagem se dá quando o selante ainda não está totalmente curado (seco) mas já permite o toque sem se desprender da região em que o mesmo foi aplicado e não se prende à ferramenta apoiada sobre ele.
(e) Cura total : fase em que o tempo de secagem citado pelo fabricante do selante se esgota e a selagem está firme e totalmente aderida à região ou componente selado.
(f) Base do selante : esta é a maior parte das duas que compõe os selantes. A base é misturada ao agente acelerador antes da aplicação do selante. Esta mistura é feita nas proporções citadas pelo fabricante do selante e não deve ser alterada para não diminuir a durabilidade da selagem, o que pode provocar perdas de combustível, pressurização ou permitir infiltrações nas aeronaves. A forma mais comum de preparo da mistura do agente catalisador e da base do selante é com o auxilio de uma balança de precisão ou por proporção. Se uma mistura for feita de forma incorreta, poderemos ter uma perda de eficiência da selagem e provocar a perda de catalisador ou base porque ambos estão empacotados para consumo exato entre as partes.
Classificação de Selantes
Os selantes são separados em tipos e classes para definir o material e os métodos de aplicação. Os traços subseqüentes às classes dos selantes indicam o tempo mínimo de aplicação em horas para as classes A / B e o tempo mínimo de trabalho para a classe C.
Classes de Selantes
Classe A - Selantes que podem ser aplicados com trinchas ou pincéis. São ideais para regiões que necessitam de uma aplicação de camadas finas como durante as junções de chapas.
Classe B - Selantes que devem ser aplicados com espátulas de acrílico, pistolas apropriadas, etc.
Classe C - Selantes aplicados durante união de chapas.
Tipos de Selantes
(a) Selantes Tipo I - usados na vedação de tanques de combustíveis, áreas pressurizadas e para vedação contra água. As normas que controlam os selantes tipo I são as normas AMS-S-8802 e MIL-S-83318.
(b) Selantes tipo II - geralmente utilizados para preenchimento de pequenos furos, fendas, etc. Os selantes tipo II não podem ser utilizados para os alguns fins do selantes tipo I como, por exemplo, selagens de tanques integrais. Exemplo PR 1448 classe B-2.
(c) Selantes tipo III - utilizados em componentes que trabalham com contato moderado com combustível e exposições intermitentes a temperaturas em torno de aproximadamente 232 graus centígrados. Não podem ser utilizados para selagem de compartimentos pressurizados. Exemplo PR-810.
(d) Selantes tipo IV - utilizados em superfícies com contato moderado com combustíveis e que ficam expostas a temperaturas intermitentes acima de 260 graus centígrados, são geralmente empregados para selar paredes de fogo. Não podem ser utilizados para selagem de compartimentos pressurizados. Exemplo Dapco 2100.
(e) Selantes tipo V - utilizados em selagens de materiais expostos a temperaturas extremas (acima de 316 graus centígrados) e exposições mínimas a combustíveis. Os selantes tipo V podem ser utilizados em vedações de ambientes pressurizados. Exemplo RTV 106.
(f) Selantes tipo VI - utilizados em componentes que tem mínimo contato com combustíveis e estão expostos a temperaturas acima de 260 graus centígrados. São geralmente utilizados em selagens de compartimentos de baterias e compartimentos pressurizados. Exemplo FA-0606 125.
(g) Selantes tipo VII - utilizados para eliminar pequenas folgas e degraus entre superfícies aerodinâmicas. Exemplo Pro Seal 895.
(h) Selantes tipo VIII - são de baixa adesão e pertencem à classe B. Geralmente empregados em carenagens, juntas, etc. Necessitam ser descolados e moldados com facilidade. São resistentes a combustíveis, graxas, água, solventes e fluidos hidráulicos. Exemplo PR-1428 classe B-1/2 e classe B-2.
(i) Selantes tipo IX - utilizados para vedar e unir componente expostos a combustíveis. Exemplo RTV 730.
(j) Selantes tipo X - formados de duas partes e utilizados para cobrir metais que necessitam de proteção contra corrosão. Não podem ser utilizados em tanques integrais de combustível. Exemplos Pro Seal 870 classe A tipo I, classe B tipo II e classe C tipo IV.
(k) Selantes tipo XI - são do tipo tape, empregados geralmente em instalações de pára-brisas e carenagens impossibilitando a entrada de água. Exemplo EP-7191T-0877.
(l) Selantes tipo XII - são geralmente empregados para selagens de janelas, pára-brisas de vidros, policarbonatos e plásticos transparentes. Exemplo PR-1829.
(m) Selantes tipo XIII - são de baixa densidade e utilizados em tanque de combustível. Exemplo PR-1776 classes B-1/2, B-2.
Tempo de Cura dos Selantes Tipos I e II
Os tempos citados na tabela 01 podem ser alterados de acordo com as modificações de temperatura e mudanças da umidade relativa do ar. Os dados fornecidos pela tabela estão baseados em uma temperatura ambiente de 25 graus centígrados e umidade relativa do ar de 50%. Os selantes tipos I e II podem ter suas curas (secagens) aceleradas com a elevação da temperatura ambiente e aumento da umidade relativa do ar. Estes artifícios podem ser elaborados com aumento de circulação de ar aquecido não mais que 60 graus centígrados, próximo à região selada ou com o uso de lâmpadas de aquecimento, desde que não seja ultrapassada a temperatura mencionada.
Tabela 01 (Tempo de Cura dos Selantes Tipo I)
Classe | Tempo de Mínimo de Aplicação | Tempo de Trabalho | Tempo para Toque | Tempo de Cura |
A-1/2 | ½ hora | - | 10 horas | 40 horas |
A-2 | 2 horas | - | 40 horas | 72 horas |
B-1/2 | ½ hora | - | 4 horas | 06 horas |
B-2 | 2 horas | - | 40 horas | 72 horas |
B-4 | 4 horas | - | 48 horas | 90 horas |
C-20 | 8 horas | 20 horas | 96 horas | 7 dias |
C-48 | 12 horas | 48 horas | 120 horas | 14 dias |
C-80 | 8 horas | 80 horas | 120 horas | 21 dias |
Aplicação dos Selantes
Para as aplicações de selantes devemos ter certeza que as superfícies a serem seladas estão livres de impurezas, umidade, graxas, óleos, etc. O técnico que irá executar a selagem deverá utilizar luvas, máscara e demais equipamentos de proteção individual. Se solicitado pelo fabricante da aeronave, deve ser feito pintura das regiões antes da selagem com primer epóxi, tomando cuidado para se certificar que houve uma adesão completa do primer epóxi antes da aplicação do selante. Todos os procedimentos devem ser seguidos a fim de evitar surpresas desagradáveis como vazamentos. Os procedimentos padrões estão normalmente descritos no capítulo 20, conforme ATA 100, dos manuais de manutenção das aeronaves. Por vezes, se necessário, poderão ser utilizados selantes de cura rápida, para eliminação de pequenos vazamentos de pressurização ou combustível a fim de se disponibilizar uma aeronave no menor tempo possível (exemplo selante PS-860 classe B1/6). Os selantes tipo I classe B (AMS-S-8802) são os únicos que podem ser utilizados para selagem de plásticos transparentes. Durante a preparação dos plásticos transparentes a limpeza dos mesmos só poderá ser feita com Nafta tipo II.
As informações contidas neste artigo foram adquiridas por pesquisas feitas em manuais de manutenção de aeronaves de asas rotativas e fixas.